“She wants to go
home, but nobody's home that's where she lies, broken inside. With no place to
go, no place to go. To dry her eyes broken inside.” - Nobody's Home, Avril Lavigne.
Eu
estava a mais ou menos vinte minutos sentada dentro do meu carro tentando
controlar minha respiração e a ânsia de vomito que tomava conta de mim. Nunca
pensei que a casa onde fui criada e que me trazia tanta segurança agora me causava
repulsão. Depois de ensaiar uma saída pela milésima vez, percebi que jamais
estaria pronta para aquilo de novo. Foi quando decidi que não poderia fazer
aquilo sozinha. Peguei minha bolsa que estava no banco do passageiro e tirei
meu celular de dentro. Depois de chamar algumas vezes, finalmente atenderam.
-
Joe? – minha voz falhou e nessa hora notei que minha garganta estava seca.
-
Demi, o que aconteceu? – o tom era de preocupação.
-
Eu estou a meia hora parada em frente a minha casa Joe e eu... Não consigo. –
disse sem rodeios.
-
Você disse que seus pais não estariam em casa. – ele relembrou o que disse a
ele quando o informei que iria até minha casa.
-
Eu sei, mas e se estiverem? Como vou encará-los?
-
Você vai ter que enfrentar isso um dia. – o jeito como ele disse deixou a frase
mais branda.
Mordi
os lábios, respirei fundo e criei coragem.
-
Será que você poderia vir até aqui?
Houve
um breve silêncio antes da resposta.
-
Estou aí em alguns minutos.
Não
demorou nem dez minutos até o momento em que avistei a moto de Joe estacionando
bem em frente ao meu carro. O vi saltar da moto e tirar o capacete ao mesmo
tempo em que eu saia do carro e acionava o alarme.
-
Vamos? – ele disse assim que se aproximou.
Eu
apenas assenti com a cabeça.
O
caminho até a porta da frente da minha casa nunca me pareceram tão longos e a
cada vez que me aproximava, mais sem ar eu ficava. Quando minha mão alcançou a
maçaneta respirei fundo e girei. Assim que entrei foi como estar revivendo cada
momento daquele pesadelo. Tinha acontecido ontem, mas agora pareciam décadas.
A
atmosfera da casa estava diferente. Gélida e sem vida. Como se o próprio imóvel
também estivesse sentido por tudo o que aconteceu. Subi as escadas com Joe em
meu encalço e estranhei o fato de nenhum dos empregados ter aparecido.
Certamente ganharam um dia de folga, pensei.
Depois
de entrar no meu quarto agi rapidamente. Peguei duas malas grandes e comecei a
colocar minhas roupas e pertences pessoais dentro delas. Joe apenas me
observava. Talvez ele nunca consiga imaginar o buraco que se instalou em mim
naquele momento. Antes de deixar meu quarto dei uma última olhada para trás. Eu
nunca mais o veria.
Joe
me ajudou com as malas enquanto descia as escadas e eu já conseguia sentir a tensão me deixando e dando lugar ao alívio. Cedo demais. Assim que pus
os pés no último degrau da escada ouvi a chave girar na porta e em poucos
segundos minha mãe entrou em meu campo de visão me fazendo congelar no lugar
onde estava e subitamente parar de respirar.
-
Filha? – ela disse de maneira quase inaudível. Não consegui dizer nada. – O que
são essas malas? Você está fugindo?
-
Fugindo? – eu perguntei de maneira irônica. – Não, eu estou indo embora mesmo.
-
Querida essa é uma atitude muito precipitada e eu...
-
Precipitada? – eu a interrompi. – Você não pode estar falando sério!
Ela
baixou a vista e deu um passo na minha direção e de maneira totalmente inesperada Joe fez o mesmo de modo a se por quase entre mim e ela.
-
Você não pode ir embora, Demi. O que vai ser de mim sem minha única filha? –
seus olhos começaram a lacrimejar.
-
Tenho certeza que você vai se virar bem. – respondi secamente.
-
Não fala assim...
-
Como você quer que eu fale? – perguntei e sem notar já elevava o tom da minha
voz. – Aliás, me diga como você acha que eu devo agir depois de tudo o que
aconteceu?
Ela
não disse nada, porém as lágrimas começaram a rolar livremente por seu rosto.
-
Não me diga que você pensou que eu voltaria pra casa e nós viveríamos felizes para sempre! Acho que os seus remédios controlados estão começando a afetar sua
sanidade, mamãe. – eu disse essa última palavra com repugnância. Ela levou as
mãos ao rosto e seus soluços se tornaram mais alto. – Sabe, essa pode ser a
explicação perfeita para suas amigas: “Oh, não foi nada, eu tomei uns remédios
muito fortes e fui pra cama com o noivo da minha filha!”
-
Para com isso! – ela pediu entre soluços.
Mas
eu continuei meu teatro, imitando seus trejeitos e zombando-a sem piedade.
-
Eu não pensei na minha querida filha um só instante porque eu sou uma puta
egoísta!
Aconteceu
muito rápido. Nem os reflexos de Joe conseguiram impedir. Quando dei por mim já
estava jogada no chão, sentindo meu rosto formigar.
-
Você me bateu? – perguntei incrédula. – Você, além de tudo, ainda tem coragem
de me dar um tapa na cara?
-
Eu não queria, me desculpa... Eu... Você começou a falar essa coisas e ... Me
perdoa! – minha mãe estava praticamente implorando meu perdão, mas eu não
conseguia sentir nada pela mulher chorosa a minha frente.
-
Saiba que daqui pra frente eu não tenho mais mãe nem pai. Sou órfã! – levantei
do chão e peguei minha mala. – Não venha atrás de mim, pois eu não conheço mais
você!
Sai
daquela casa com um peso no coração. Joe colocou as malas no porta-malas, mas
ao chegar perto de mim percebeu que eu não conseguia abrir o carro, pois minhas
mãos tremiam incontrolavelmente.
-
Ei, acho melhor eu dirigir. – ele disse com a voz doce pegando a chave da minha
mão. Eu concordei com a cabeça e dei a volta no carro para sentar no banco do
carona.
-
Desculpa. – Joe disse antes de dar partida. Olhei pra ele sem entender. – Por
não ter evitado o tapa.
-
Não tem problema. – eu respondi sincera. – Estava precisando dele pra perceber
que tudo não foi um pesadelo e que essa é realmente minha vida.
Joe
nada respondeu. O resto do caminho de volta passou como um borrão perante minha
vista. Minha mente estava longe e nem mesmo eu sei por onde ela vagava. A única
coisa de que eu tinha certeza naquele momento era de que toda a minha vida iria
mudar, eu só não fazia ideia do quanto.
Continua...
* "Ela quer ir pra casa, mas ninguém está em casa. É onde ela se encontra, arrasada por dentro. Não há lugar pra ir, não há lugar pra ir, secar suas lágrimas arrasada por dentro."
n/a: OLÁAAAAA AMORES!!! VOLTEEEEEI! Que saudade que eu tava daqui! <3 Então, como vão as coisas? Já voltaram a estudar ou ainda estão de boa na lagoa come eu? hahaha Gostaram da pirralha, digo, minha irmã? :D Bom, está ai mais um capítulo desculpem a demora mas as coisas tendem a se normalizar agora tá? É isso amores, comentem, conversem comigo e tals... AMO vocês e até o próximo post! :**
p.s.: vou responder aos comentários depois tá amores lindos! :**